Normalmente, chegados a estas épocas anuais viradas para os banhos, todas as famílias que se prezem tinham... e algumas ainda têm a sua barraquinha alugada na praia para onde vão em procissão.
Hoje, com o progresso as barraquitas, aquelas de panos ás riscas quadradas com a porta de entrada aberta a fazer de toldo,
As barrraquinhas abrigavam os comes os bebes, e até protegiam os tios e os miúdos mais novos com a sombra para as necessárias sestas. Liam os jornais, encostados á estrutura de madeira, iam a banhos e regressavam à barraquinha. E lá dentro os miúdos jogavam às escondidas, ao prego e até fugiam pela parte de trás para irem ao banho sem os mais velhos perceberem. Era uma cidade de gentes conhecidas que se encontravam todos os anos naquela mesma praia, naquela mesma barraca. Já se sabia quem eram os vizinhos mesmo antes deles chegarem. todos os anos apareciam caras novas, que lá se enturmavam derivado da criançada que logo descobriam novos amigos de verão, enquanto os mais velhos, mais desconfiados, lá iam começando a falar com os estranhos pouco a pouco, até porque ao fim do terceiro ou quarto dia, a ver os mesmos vizinhos, um cumprimento era obrigatório, e pouco a pouco lá se iam conhecendo.
Ainda existem algumas por aí espalhadas por algumas praias deste nosso cantinho, mas a maioria deram lugar ás espreguiçadeiras de plástico, e a uns chapéus de sol empalhados a modos tropicais, a fazer lembrar essas paragens distantes. Não se movem e chega a uma altura em que a sombra está mais nos vizinhos do que em nós.
Nós também tínhamos uma barraca de praia. Mas a nossa barraca era especial. Não era na praia, era em casa. Mas nós tínhamos sorte, porque a casa era na praia, ou melhor... em cima dela,e como a praia era pequena a barraca era em casa.
Também era ás riscas, largas, azuis creio eu, que depois deram lugar a um pano de risca verdes mais estreitas. Aquela nossa barraca de praia, era um luxo. Ali feita debaixo do vão das escadas que iam dar à varanda, encafuada num arco. Estava bem protegida do vento e era ali que a vida começava e acabava nas idas e vindas da praia, mesmo ali defronte onde se desciam seis degraus por uma escada de madeira construída propositadamente. e que derivado de um temporal no inverno levou com um pinheiro em cima e desfez a dita toda. foi uma pena.
A nossa época de verão começava com a colocação dessa pesada escada de madeira. Quando chegávamos a casa e víamos a escada lá posta na rocha, era sinal de banhos, Verão primos, barcos e muita animação.
Depois vinha a barraca. A nossa Barraca de riscas. Grande, enorme, caibamos lá 5 ou seis ao mesmo tempo!!.
E barraca de riscas lá se ia montando também. Primeiro os espaldares de madeira grossa, bem construídos e todos os anos envernizados de novo pelos tios. Depois vinha o espelho que se pendurava na parede que servia para alindar e dar bom aspecto a todos os que por lá passavam. Depois, a mesinha que servia de aparador para as escovas, para as toalhas e muitas vezes para se guardar as trapalhices da praia lá em baixo. Depois montava-se a mangueira, que tinha no fim um duche. ligado á torneira que era só de água fria. Mas isso não nos incomodava. Todos os dias ao fim do dia de praia, depois dos saltos nas rochas nas viagens de bóia a casa dos primos que também era sobre o mar, dos passeios pela baía no repimpa do tio João, das voltas de barco, no Intrepid no Narceja, no Quasar e no Maçarico, aquele banho de água fria bastava para nos alindar para o resto do fim do dia até à hora da cama. E víamos a água com a areia a escorrer para o ralo, encaminhado por um carreiro de cimento. Era ali que ligávamos a mangueira do jardim para regar as flores, os vasos e mais tarde o escalracho que teimava em crescer num solo de pedras e terra salgada pelo mar invernoso que entrava em repuxos pela guarita.
E a barraca lá nos apoiava a todos, tirávamos a areia , passávamos-nos por água, e quando o calor apertava, servia para refrescar a sede sem ter que entrar em casa e sujar o chão imaculadamente encerado.
Ali guardávamos os brinquedos que levávamos todos os dias escada abaixo para a praia. os baldes, as barbatanas, os óculos de mergulho, e as câmaras de ar. Essas companheiras de Verão que nos levavam para todo o lado dentro de água a explorar todos os anos as rochas, os cantos e recantos e as idas a casa dos primos comer as sanduiches de açúcar e manteiga.
Aquela barraca fazia parte de nós. Nos dias em que a praia não estava apetecível, servia de esconderijo para os jogos das escondidas. Servia para contarmos os segredos. Era nossa companheira também.
E quando chegava o fim do Verão, e se desmontava a barraca a casa parecia que ficava mais triste , despida, como que se fosse hibernar á espera de mais um ano.
Durou anos assim, até que também partiu com a casa. Agora já não existe o arco, nem existe a barraca. A casa está lá. Não tão alegre e viva como já foi, mas cuidada e bem tratada. E sempre que passamos por lá manda-nos um piscar de olhos com todas as memórias daqueles que por lá passaram.
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