segunda-feira, janeiro 17, 2011

A Praia

Aquela praia embora não sendo minha, foi nossa durante muitos anos. Mas não era só a praia, era a casa também. E não era só a casa, eram as gentes que todos os Verões lá estavam, lá passavam lá almoçavam lá jantavam.
E não era só as gentes, era a varanda, o vento a vista, os cheiros. E também não era só isso. Era o farol de um lado e o pontão do cais sul do outro.
Eram as bolas de Berlim, eram os caracóis da tasquinha do lado, as famosas sandes de coiratos na roulote.
Eram as bicicletas e as corridas à volta da casa. Era a arrecadação a divisão mais importante e divertida da casa das gentes dos primos dos tios.
Eram os Verões , os banhos, as almoçaradas debaixo das arcadas, as jantaradas ao som das cigarras com o cheirinho de um fim de dia passado em banhos de água do mar. Aquele cheiro de fim de tarde, aquela luz de principio da noite. Eram os cedros a perfumar o ar, a cantarem com a nortada.
Eram aqueles dias de calmaria com o calor a bater no terreiro, todo ele ancinhado e regado na véspera ao fim do dia, para não entrar o pó.
Eram aquelas manhãs com o sol em frente o mar a brilhar.
Naquela casa entrava a Lua, entrava mesmo! marcava no mar um caminho com reflexos que batiam nos vidros da sala.
E aquela praia, só nossa sem ser nossa. E aquela rocha com degraus e bancos e aquela escada com corrimão. E aquela areia onde se faziam corridas de caricas, corridas de caranguejos. onde se aparelhavam os barcos.
E o cheirinho do pão molhado no pequeno almoço com café com leite tomado na copa com o sol a chamar-nos lá fora.
Era toda uma vida, todos os Verões todos os anos durante anos.
E eram os Natais também, o barulho das lareiras acesas o cheiro a encerado daquelas portas daqueles corredores, o cheiro dos petromax.
O calor daquele presépio todos os anos diferente, todos os anos enorme naquela sala, naquele escritório.
E era o barulho dos trincos das portas, do elevador dos pratos, da fechadura da porta de entrada.
E a chuva e o frio e o vento lá fora, a bater nos vidros das janelas protegidas pelas rótulas aos quadradinhos. E foi tão bom assim durante anos e mais anos.

E o jardim? e a guarita? e a mesa de pedra? e o banco no canto do jardim ao pé da ponte? e os cactos e as piteiras? e o chorão que teimava a crescer pelo chão?

Não era só a praia... foi toda uma vida.

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