Aquela praia embora não sendo minha, foi nossa durante muitos anos. Mas não era só a praia, era a casa também. E não era só a casa, eram as gentes que todos os Verões lá estavam, lá passavam lá almoçavam lá jantavam.
E não era só as gentes, era a varanda, o vento a vista, os cheiros. E também não era só isso. Era o farol de um lado e o pontão do cais sul do outro.
Eram as bolas de Berlim, eram os caracóis da tasquinha do lado, as famosas sandes de coiratos na roulote.
Eram as bicicletas e as corridas à volta da casa. Era a arrecadação a divisão mais importante e divertida da casa das gentes dos primos dos tios.
Eram os Verões , os banhos, as almoçaradas debaixo das arcadas, as jantaradas ao som das cigarras com o cheirinho de um fim de dia passado em banhos de água do mar. Aquele cheiro de fim de tarde, aquela luz de principio da noite. Eram os cedros a perfumar o ar, a cantarem com a nortada.
Eram aqueles dias de calmaria com o calor a bater no terreiro, todo ele ancinhado e regado na véspera ao fim do dia, para não entrar o pó.
Eram aquelas manhãs com o sol em frente o mar a brilhar.
Naquela casa entrava a Lua, entrava mesmo! marcava no mar um caminho com reflexos que batiam nos vidros da sala.
E aquela praia, só nossa sem ser nossa. E aquela rocha com degraus e bancos e aquela escada com corrimão. E aquela areia onde se faziam corridas de caricas, corridas de caranguejos. onde se aparelhavam os barcos.
E o cheirinho do pão molhado no pequeno almoço com café com leite tomado na copa com o sol a chamar-nos lá fora.
Era toda uma vida, todos os Verões todos os anos durante anos.
E eram os Natais também, o barulho das lareiras acesas o cheiro a encerado daquelas portas daqueles corredores, o cheiro dos petromax.
O calor daquele presépio todos os anos diferente, todos os anos enorme naquela sala, naquele escritório.
E era o barulho dos trincos das portas, do elevador dos pratos, da fechadura da porta de entrada.
E a chuva e o frio e o vento lá fora, a bater nos vidros das janelas protegidas pelas rótulas aos quadradinhos. E foi tão bom assim durante anos e mais anos.
E o jardim? e a guarita? e a mesa de pedra? e o banco no canto do jardim ao pé da ponte? e os cactos e as piteiras? e o chorão que teimava a crescer pelo chão?
Não era só a praia... foi toda uma vida.
segunda-feira, janeiro 17, 2011
quinta-feira, janeiro 06, 2011
D. Diogo
As voltas que as nossas vidas dão fazem-nos por vezes cruzar com certas personagens que não damos importância, mas que sem querermos acompanham-nos lado a lado como uma sombra sem notarmos.
D. Diogo é uma dessas personagens, desde cedo sem saber tivemos as nossas vidas partilhadas e continuamos a ter. Ou pelo mesmo autocarro que apanhamos, ou pela mesma equipa de rugby, ou pelo trabalho, ou pelos amigos que nos vão aparecendo.
Neste caso foi um bocado de tudo. D. Diogo desde menino partilhava comigo a paixão do rugby e por acaso da vida jogamos no mesmo clube, ele nos mais novos, por o ser assim toda a vida, eu pelos mais velho por o assim ser a vida toda.
Em comum tínhamos o rugby, o clube e o autocarro que partilhávamos sempre que voltávamos dos treinos, sujos cheios de lama.
depois crescemos e cada vida tomou o seu rumo, mas sem sabermos sempre lado a lado sem nos tocarmos. Ele continua ferrenho apaixonado pelo desporto, eu já nem tanto...
Às vezes de vez em quando lá nos cruzávamos numa noite, num balcão do bar, numa festa de anos e de novo seguíamos o nosso caminho.
Já mais tarde dei por ele ao balcão do restaurante Estufa Real. Sem sabermos ficamos a saber que nos tornávamos membros do mesmo clube profissional, da mesma empresa. Foi um reencontro dos encontros passados.
De novo estávamos no mesmo caminho, de novo em caminhos paralelos, cruzávamos nos corredores, nas viagens nas almoçaradas. Discutíamos nas decisões, discutíamos nas preocupações, mas partilhávamos uma amizade.
E a amizade cresceu, embora não nos cruzássemos muito como amigos.
D. Diogo de novo seguiu outro caminho, rumou a Norte, á mesma cidade de onde alguns anos antes eu já tinha subido e retornado. D. Diogo subiu, e sumiu.
Fui sabendo dele por intermédias pessoas, amigos comuns, e pouco mais.
Depois voltou de novo e de novo nos cruzamos. Chamou-me para um almoço no Piazza di Mare.
Chamei-o para o meu casamento, junto com todos os nossos amigos comuns. Era um amigo e os amigos não se esquecem.
D. Diogo, também não se esqueceu, e como um anjo da guarda, sem perceber. Estendeu-me a mão quando precisei. Ao contrário de pessoas que julgava bons amigos. D. Diogo mostrou o verdadeiro valor de amizade. A responsabilidade foi grande, um Amigo destes não pode ser nunca desacreditado. Aceitei o desafio, e espero não o ter defraudado.
D. Diogo prosseguiu de novo por um novo caminho, mas nestes últimos dois anos, sem perceber mostrou-me que ainda existem pessoas de bem em Portugal.
D. Diogo é um deles. Sem o perceber, apoiou-me em horas difíceis, estendeu-me o braço, chamou-me à razão, mostrou-me o valor dos princípios que os nossos Pais e Avós nos passaram.
Sem perceber deu-me força para seguir em frente, para acreditar.
D. Diogo seguiu de novo, mas desta vez sei bem onde vai.
Montou num cavalo Lazão, calçou botas de camurça ruça e nelas enfiou um esporão!
D. Diogo é uma dessas personagens, desde cedo sem saber tivemos as nossas vidas partilhadas e continuamos a ter. Ou pelo mesmo autocarro que apanhamos, ou pela mesma equipa de rugby, ou pelo trabalho, ou pelos amigos que nos vão aparecendo.
Neste caso foi um bocado de tudo. D. Diogo desde menino partilhava comigo a paixão do rugby e por acaso da vida jogamos no mesmo clube, ele nos mais novos, por o ser assim toda a vida, eu pelos mais velho por o assim ser a vida toda.
Em comum tínhamos o rugby, o clube e o autocarro que partilhávamos sempre que voltávamos dos treinos, sujos cheios de lama.
depois crescemos e cada vida tomou o seu rumo, mas sem sabermos sempre lado a lado sem nos tocarmos. Ele continua ferrenho apaixonado pelo desporto, eu já nem tanto...
Às vezes de vez em quando lá nos cruzávamos numa noite, num balcão do bar, numa festa de anos e de novo seguíamos o nosso caminho.
Já mais tarde dei por ele ao balcão do restaurante Estufa Real. Sem sabermos ficamos a saber que nos tornávamos membros do mesmo clube profissional, da mesma empresa. Foi um reencontro dos encontros passados.
De novo estávamos no mesmo caminho, de novo em caminhos paralelos, cruzávamos nos corredores, nas viagens nas almoçaradas. Discutíamos nas decisões, discutíamos nas preocupações, mas partilhávamos uma amizade.
E a amizade cresceu, embora não nos cruzássemos muito como amigos.
D. Diogo de novo seguiu outro caminho, rumou a Norte, á mesma cidade de onde alguns anos antes eu já tinha subido e retornado. D. Diogo subiu, e sumiu.
Fui sabendo dele por intermédias pessoas, amigos comuns, e pouco mais.
Depois voltou de novo e de novo nos cruzamos. Chamou-me para um almoço no Piazza di Mare.
Chamei-o para o meu casamento, junto com todos os nossos amigos comuns. Era um amigo e os amigos não se esquecem.
D. Diogo, também não se esqueceu, e como um anjo da guarda, sem perceber. Estendeu-me a mão quando precisei. Ao contrário de pessoas que julgava bons amigos. D. Diogo mostrou o verdadeiro valor de amizade. A responsabilidade foi grande, um Amigo destes não pode ser nunca desacreditado. Aceitei o desafio, e espero não o ter defraudado.
D. Diogo prosseguiu de novo por um novo caminho, mas nestes últimos dois anos, sem perceber mostrou-me que ainda existem pessoas de bem em Portugal.
D. Diogo é um deles. Sem o perceber, apoiou-me em horas difíceis, estendeu-me o braço, chamou-me à razão, mostrou-me o valor dos princípios que os nossos Pais e Avós nos passaram.
Sem perceber deu-me força para seguir em frente, para acreditar.
D. Diogo seguiu de novo, mas desta vez sei bem onde vai.
Montou num cavalo Lazão, calçou botas de camurça ruça e nelas enfiou um esporão!
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