depois de um normalissimo excelente almoço ali para os lados da Comporta, onde Aqui Há Peixe fiz-me á estrada muito bem acompanhado.
Parei em Vila Velha de Rodão, terra de tradições seculares ali onde o Tejo se afunila para se despejar mais a jusante nas planicies ribatejanas.
chegamos lá era já noite, e conforme as indicações paramos ás portas de rodão nas Portas de Rodão estalagem residencial.
Na recepção, que por momentos julguei ser a sala de espera de um qualquer centro de terceira idade escondido por estes sitios, apareceu-nos impecavelmente vestido, com uma flor na lapela ( por não ser florista, não sei a especie...) toda branca e com uns tons de amarelo, o sr. recepcionista que logo nos tirou a pinta..."intimos do artista, verdade?" não o querendo decepcionar lá lhe acenei um sim com a mona, mas corrigi-o educadamente ( dentro das minhas parcas maneiras...)
-Intimo o catano!! o gajo é meu amigo, mai nada!!!
Posto o dito no lugar, subimos ao quarto para deixar las valises Luis Butón. Baixamos ao foyer, e na sala de jogo lá estavam os meus dois casalinhos de amigos ( o tal do intimo com a sua esponsa e o tal do outro com a sua nóbia)
depois de meia hora de esnucar fomos jantar, para o salão do titular, lá nos passos da estalagem.
Ao que isto, enquanto calmamente disfrutavamos o fabuloso nectar Irlandês, fomos confrontados com a urgente presença do artista no salão nobre do establecimento.
De nobre o salão tem muito pouco, quatro paredes caiadas um cheirinho a tabaquinho, uns santinhos dourados, uma viola e um jardim...
Em cima da mesa um guitarra, á volta dela os convivas... a bem dizer mais dados para o commorte do que convivas...
batiam na casa dos sessenta ou mais, e batiam sem descanço...
Ao entrar o artista, um alvoroço de palmas e vivas!!! Este e nós, guiados pelo seu séquito de intimos, lá nos sentarmos bem perto do palco, para dar inicio á fadistagem...
Em honra do sr. Eng. que faleceu, e que deixou uma cartilha de poemas musicados pelos melhores guitarristas da praça, abriu-se a noite com 3 fados cantados a rigor e acompanhados a primor... pelo whisky em cima da mesa, porque as guitarras com o frio teimavam em cantar em unissono.
terminada a primeira leva, veio o primeiro apontamento discursional...
-"Em honra do Eng. bem querido por todos vou cantar agora um fadinho escrito pelo falecido, e musicado também pelo nosso querido amigo, já falecido, fulano de cicrano"...
pose de fadista, mão bem firme, peito cheio, ombro hirto, aqui...aqui vai dele!! ...
vai vai!! vai mais um whisky pela goela abaixo... chiça... até as guitarras cantavam melhor...
o desfile foi continuando ao longo da noite, ora eles, ora elas, mas tudo na mesma bitola. Apareceu por lá também alguem do metiê que tinha uma casa de fadistagem na terra dos albicastrenses... a senhora cantava, mas pela performance talvez tivesse sido em tempos bailarina do ventre...
A seguir, e já melhorzinho em dotes vocais apareceu um marialva... aí a noite aqueceu! foi uma lufada de ar fresco, um outro folego e... uma outra garrafa...
Acenderam-se as luzes e aqueceram-se as gargantas para a segunda parte.
Apesar de já nos termos enturmado no ambiente, e julgar que nada de novo iria acontecer, lá apanhamos com mais uma surpresa.
Só que desta vez uma GRANDE SURPRESA. Daquelas que nos fazem orgulhar de sermos Tugas, daquelas que nos mostram quem realmente somos, onde estão as nossas raizes. E porquê que somos únicos.
tivemos dez minutos em amena cavaqueira com a Sra. Dona Viúva do Sr. Eng. que era homenageado nessa noite.
Ficamos a saber que o Sr. Eng. era eximio na marialvagem, nas tertulias fadistas de Castelo Branco, a vadiar com outros mais, ia dançar prós arraias, para namorar beber folgar, cantar o fado... mesmo depois do dia em que apareceu essa tridora da franja...
Foi ele que albergou o melhor da fadistagem Albicastrense de aquem e alem fronteiras, já que o apresentador do programa, seu amigo ( ainda vivo) tinha estado emigrado nas caravelas do Gama.
O Eng. homenageado deixou linhagem e embora não tivessem dotes fadistas, pela pequena amostra tinham dotes oratórios, ao contrario de eu que já não tinha whisky...
Avançamos sem medo nem pressas para a segunda parte, o tal do intimo brilhou outra vez como é de sua cepa. as guitarras já estavam mais aconchegas ( ou talvez os ouvidos mais enevoados). o Intimo , agarrou a assitencia pelos cornos, deu-lhe umas notas conhecidas que todos trauteavam em conjunto... tão bem tão bem que o traute, parecia um galope sem pausas... mas a coisa estava mais composta do que os inicios, e o whisky tinha de novo voltado á nossa mesa...
No fim, já depois do desfile ter passado, deitamo-nos cada um em seu leito, sem intimidades, qu'isto aqui é gente decente!!
segunda-feira, março 06, 2006
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