quarta-feira, dezembro 04, 2024

UM BEIJO

Estava escuro, ainda cedo naquela casa, na minha companheira de muitas noites de encontros de desencontros de folias, risos e canções. Ainda o musicos não tinham começado a tocar.
Como todas as noites e muitas outras madrugadas tinha ao meu lado na nossa mesa do costume dos ultimos 15 anos, o meu Amigo Barão.
Conversas daqui olhos para ali, vimos entrar duas moçoilas de cara nova daquele pousio. Mais gente entrou, a casa animou, os musicos tocavam já.
Entre risos e bacoradas, filei lá ao fundo uma das moçoilas, loira como eu gosto, alhava-a entre outros olhares, os nossos cruzaram-se uma vez, duas, três... desisti. Insisti. Lá fui perguntar à graça, ao que respondeu sem pestanejar, sem saber percebi, está miúda é séria não é para descartar. Seu ar de 1800, tem qualquer coisa que me diz. Lá conversei, só por conversar e no meio lá se riu, não percebi se seria só para agradar, mas agradou.
Estava a fugir, ia se deitar e eu no dia seguinte viajar. 
Não foi, ficou, o Cajó não deixou. Explicou e bem que não se ia arrepender..... Não sei. Sei que nestes anos todos já, se, arrependo. Como eu me arrependi também. Mas isso é que nos faz seguir e juntos conseguir. 

que luxo de forno.

A última vez que soube de alguma notícia de Almodôvar, era de que o presidente da câmara tinha morrido.... Mas isso foi há muitos anos, e acho que foi o Tio Manel que, atabalhoado leu para a Laurinda...
Mas o que me traz hoje aqui é o forno. Monumento secular de pedra xisto. Com alguns pedaços de granito e muita alvenaria. Caiado por fora já se vê, torricado por dentro como  deve ser. 
Aquele forno  ali no meio da esteva, no sopé de um pequeno monte com a ribeira ao lado a correr, não é de ninguém mas é usado por toda a gente. Usado e cuidado já se vê. 
Dali saiem pães alentejanos, daqueles que guardamos por um mês. 
Também já vi cabritos, borregos, porcos e javalis. 
Se o forno falasse seria uma enciclopédia gastronómica! Mas como é um cavalheiro, apesar da boca grande e do apetite veroz do azinho e algum sobreiro afoito, não conta nada do que come cru e devolve assado.
Eu tenho para mim as melhores recordações daquele forno lá no cimo do pequeno monte no meio do montado de azinho e esteva. 
Foi ali que muitas vezes paramos nas linhas de caça. Perdizes de um lado, coelhos e codornizes. 
Também terminámos com um arroz de javardo, leitoso ainda, num dia frio cinzento com ventania. 
Um aconchego aquele forno, pegando nas brasas quentes entre duas ou três pedras fazíamos um braseiro para aquecer as estafadas pernas.
Um medronho no café. Um tinto no copo e uma pratada de arroz com eles, faziam maravilhas. 
Mas o forno cansou se, e um dia sem razão desmoronou, estava velho coitado, e por melhor cuidado não aguentou o peso da idade. 
E nós desamparados nunca mais lá voltamos. Sempre me disseram nunca voltes onde já foste feliz 
E assim eu fiz. 

Correm hoje as minhas lágrimas

Hoje nas minhas lágrimas correm sonhos
Correm alegrias
Correm tristezas tambem
Correm amigas perdidas
Correm amores desencontrados
Nas minhas lágrimas corre o sal do mar
Corre o calor do trigo a bailar
Corre o eco de alguém querido a chorar.
Hoje nas minhas lágrimas correm sonhos de amizades perdidas. De paixões terminadas, de amantes desalinhadas.
Hoje nas minhas lágrimas corre a saudade cheia de alegria de uma vida vazia. 
Corre a saudade dela e deles, uma Mãe de mão cheia, um pai ausente, um padrasto de coração enorme.
Hoje nas minhas lágrimas corre felicidade de ver uma filha linda a prolongar o nome. Uma família quente junto do lume. E no fim do dia ver que tudo que tenho, e que me dá conforto. É só um bocado de Deus que bem perto me tenta levar a bom porto. 

Chaga Dezembro

A Dezembro chegamos, um final de quase um ano compressas iniciado
Mas muito pouco realizado.
O que vale a pena são as luzes, luizinhas, estrelas e estrelinhas.. Até anões, bichos estranhos e outros matulões.
Umas renas em trenós. E ali ao pé atras de nós um gajo balofo vestido de coca cola, com barba grande e grisalha, leva no dorso uma sacola.
Que bonito que alegria! Vai trazer presentes à pequenada... Felizes e contentes recebem sem perceber nada.
E cada ano que passa, mais o Menino é esquecido e se disfarça.
Triste mundo este. Em que Natal com sentimento, não é a graça do Nascimento!
Aquele que comemoramos, está entregue ao esquecimento.
Venham as luzes, luizinhas e outras porcarias. Venha o gordo anafado com o seu saco carregado.
Mas para mim isso tudo o que é. Só serve para usar no bidé!
O Menino, cá eu sei. Não quer luzes nem foguetes, não quer faixas nem presentes. Só quer é pede que tenhamos todos Fé.

será assim?

Da verdade nunca serei dono nem senhor.
Porque a verdade, como os homens, pode se corromper.
Mas das crenças e verdades que tenho serei sempre defensor até prova em contrário. Porque os bons homens sabem reconhecer que uma verdade por vezes é mentira. E essa é uma verdade que ninguém me tira!