Foi já há uns quantos anos, não sei mesmo quantos mas há alguns tantos ou mais do que aqueles que me lembro.
Foi antes do almoço, uns minutos antes, foi no Inverno, estava um Sol radiante, um dia daqueles carregado de frio com um azul delirante.
Foi no jardim em frente da casa, com uma vista deslumbrante para a planície, apontada a sul, sem ter fim. Era Inverno já disse, o campo estava verde, carregado de tons de verde escuro, verde claro e verde verde.
No jardim, em frente à casa virada ao Sol, estava um lago, que ainda lá está. Um lago redondo, talvez seja mais um tanque, ou uma fonte do que um lago. Lá dentro uns peixes daqueles pintalgados, bem grandes, vim a saber, eram carpas koi. O Lago, ou tanque ou fonte é quadrado com os cantos cortados, em cada canto uma roseira, tímida a crescer, ou recolhida pelo frio. Junto de cada uma delas, uma cana a segurar-lhes e a dar amparo.
Estava frio era antes do almoço. resolvi dar um salto do sofá e saltar para o jardim espreitar o lago.
No meio do frio vi os peixes dentro de água, eram grandes e eu um miúdo ainda, a aprender a crescer com outros amigos, novos também, mas daqueles que ainda amigos são. A casa era do pai deles. Tinham tudo , perderam tudo recuperaram tudo, e aquela casa teve a mesma história, completamente desfeita pelas ondas revolucionárias, foi refeita pelas ondas da persistencia e do trabalho do pai.
A casa estava ainda a recuperar do temporal pós Abrilista, tudo nela respirava a orgulho, cada pedra do jardim, cada roseira no canteiro, cada peixe, tudo. mal entravamos na Quinta, éramos envolvido por uma sensação de um honroso renascimento, de uma luta ganha.
Cheguei junto ao lago e quis brincar com os peixes, atirei pedrinhas, arranjei um pão duro na cozinha e despejei migalhas, ali estive pouco mais de 20 minutos à volta dos peixes, que subiam, desciam, iam e voltavam curiosos a ver o que lhes deitava na água. Por fim resolvi pegar numa cana das roseiras, espetei um bocado maior de pão e mergulhei a cana na água para ir brincando com eles.
De repente, ali da soleira da sala da casa que dá para o jardim virado ao sol onde estava o lago, chamaram-me para a mesa. Todos estavam à minha espera, entre 20 pessoas, adultas e mais crianças, eu, um convidado daquela casa, daquela família estava a fazer esperar toda a gente...
Tremi, tentei espetar a cana uma vez, duas e três, e nada, caiu para o lado. À quarta vez espetei com mais força, e corri para a mesa, olhei para trás e vi a cana a cair no chão, encolhi os ombro, pensei "que se lixe é só uma cana...".
Entrei na casa de jantar com todos à minha espera, era cozido, estava frio lá fora e o cozido já começava a arrefecer. Pedi desculpa à dona da casa, à mãe dos meus amigos que me tinham convidado pela segunda vez. Não houve problema. Até que o pai, me disse.
"Só te sentas à mesa depois de ires lá fora por a cana no sitio. Estive a ver-te brincar e viste que a cana caiu e não voltaste para trás. Agora vais lá por a cana no sitio e só voltas quando ela estiver posta como deve ser.
Primeiro não tinhas nada que tirar a cana do sitio. Se estava ali, foi porque alguém a pôs e teve trabalho a pô-la, não é assim que se trata o trabalho dos outros. Tens que ter respeito".
Voltei a por a cana no sitio. Nunca mais me esqueci. Tinha 12 Anos, e aprendi assim a respeitar o trabalhos das outras pessoas.
José Manuel de Mello, foi quem me deu a lição. Bem Haja
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