terça-feira, abril 29, 2025

O meu apagão

O meu apagão não foi a 28 de abril

Não sei quando é que foi realmente, mas a data iniciada oficialmente pelas entidades protectoras da minha parca saúde mental na altura foi definida a 17 de Setembro.
Não me esqueço dessa data, estava a pontos de dar um tiro, de fazer um nó de forca, de me atirar por um promontório, e antes disso de matar alguém e em seguida outros para não sofrerem.
Não estava cego, estava turvo que é bem pior. Foi o culminar de 5anos em que tudo que fazia profissionalmente estava mal feito mesmo que fosse excelente, tudo o que trazia de positivo era negativo porque havia sempre anteriormente um conhecido um amigo um pseudo inteligente que tinha feito melhor. Nada chegava de bom
 Nada era suficiente. Nada era satisfatório para a besta que me alimentava.
Tentei várias vezes sair por ser a solução mais certa embora a mais cobarde. Não queria abandonar um barco com um capitão de longa idade, que ignorava as marés, os ventos e as correntes que mudavam desde que começou a navegar. Tinha a rota traçada, era por aí que tínhamos que ir, não interessa o que muda nem o que se passa à volta. Só ele sabe, só ele pode só faz e consegue. Tudo o resto é banal e descartável. Só ele tem razão.
E eu, na minha ingenuidade de grumete a quer mostrar novas rotas novos rumos novos portos novos aprumos. Aprumava-me e apontava ano as terras longínquas que nos trariam boas riquezas. Tudo isso foi descartado e deitado ao lixo. A sua vontade era soberana! Mas numa soberania cobarde e enganosa. Chamava pilotos de fora sem dar notícia nem ouvidos à tripulação. E depois de bem pagos, apresentavam as mesmas rotas e rumos para as mesmas terras longínquas 
 Durava dois dias e dois dias depois, de ter gasto milhares talvez milhões, vira de novo para o seu rumo sem nexo. 
Queria apanhar tudo, o Norte o Este o Sul o oeste. Todos os pontos cardeais tinham que estar na rota que seguia em frente. 
Lutei com vontade. Apostei em alguns cardinais, tirei azimutes que era obrigado a corrigir sem demais. 
E de repente no meio desta tormenta. Bloqueei, ceguei, turvei, vaziei, desesperei. Nada mais me restava, nada mais sobrava. 
Os pensamentos viajaram dentro da mente, já demente. Um tiro ali, um nó aqui, um precipício acolá , tudo era opção. Turvo na visão. Triste na paixão. Sem gozo pela vida nem por os que cá estão. 
Estive assim, um apagão. Que durou meses, pelo menos quatro oficiais mas talvez conte 3 anos ou mais. 
Nada era bom, nem em casa ou fora dela. Só um repentido desaparecimento fazia sentido. 
Mas houve alguém sem saber. Sem querer que me fez ver, abrir a pestana e dar força sem saber. Não foi só um alguém, nem dois dois. Foram muitos sem ordem depois dos dois primeiros dois, que neste caso são duas e que cabe na nossa casa. A mesma casa onde queria dar os tiros e fazer o nó. 
Dessas duas não me vou esquecer nunca. É nestas alturas que damos valor ao casamento e eu no meio da tempestade vi dois raios de sol, dois raios de luz, dois raios de felicidade no meio daquela turbulência toda. 
Parei. Puxei por mim procurei no fundo., e descansei. Tinha encontrado a saída do labirinto em que estava metido. O Apagão começou a desapagar. Percebi a causa. Percebi a razão. Re encontrei o caminho no meio daquela escuridão pesada que me tinha sido instaurada por esse ser de ego desenfreado. 
Agarrei os raios que me foram mostrados, e raio! Não os larguei. Subi, desci também mas não larguei. E derrepente ao fim de meses, a passar por tanto, comecei a caminhada. 
Ouvi tanto de bom da minha rapaziada amiga. Não me esqueço de ninguém "qualquer coisa estamos aqui" e estavam mesmo não sabendo qual era a qualquer coisa. Só ouvir isto subi. Fui subindo a pulso e claro está também com ajuda da minha psicotropica que me apontava o melhor caminho para fugir da vespa e do seu ninho envenenado. 
A última etapa ainda não está feita. Mas a volta ao meu eu está quase perfeita. 
Agora já não vejo o apagão, como se fosse um papão. Já abro os olhos e não tenho a vista turva. Já olho ao longe as árvores o céu, as ondas o mar o sol as nuvens como uma graça que Deus me deu! Estou contente. Talvez feliz, mas de certeza que estou de volta ao sítio que sempre quiz. 
Família, paz, e amor pela vida que julguei que perdi.