quinta-feira, janeiro 24, 2019

A Caldeirra eléctrica do Sr. Cardoso

Naquela casa bem no fundo do corredor, bem junto ao canto tínhamos a caldeira das águas para os banhos.
Com casa cheia acendia-se de manhã e ao fim da tarde.
De manhã para os mais velhos, à tarde para os mais novos e outros mais mandrioes.
A operação começava uma hora antes, com todo um necessário ritual. Primeiro limpar as cinzas, sim!! A caldeira era a lenha. Era em ferro fundido, vinha da Figueira da Foz.
Depois de limpas, bastava uma pinha e duas canhota até começarem a arder bem. A seguir juntavam se mais duas e estava a bombar.
Vem agora a parte mais importante. Abrir a água para encher o depósito e adivinhar quando estava cheio... Ouvíamos a água no depósito, batiamos para ouvir o toc toc e adivinhavamos se estaria cheia. Muitas vezes esperávamos a água transbordar. E aí fechavamos a torneira.
Quando começava a azáfama dos banhos, as regras eram simples, por a água na tina, ou encher o banho, o como dizem agora... Encher a banheira.. Por duas canhota na caldeira e abrir a torneira da água da caldeira, para ir repondo a água quente gasta no banho.... E que quente ela vinha!!!
Assim sucessivamente tomavamos os banhos à vez.
Só que constantemente, o raio da caldeira transbordava e a água escorria pelo chão da casa de banho a encharcar tudo.
Quando lá estávamos, era uma saída rápida da tina (banheira no actual). e fechavamos a torneira.

O pior era quando ninguém lá estava.... E muitas vezes acontecia....

Volta não volta quando alguém ia ao Lopes (casa banho prós I incultos...) ouviam se os gritos...

Ai a caldeira!! ai a caldeira!!!

Já sabíamos... Correria certa pelo corredor a fora para limpar a inundação....

Cansado de tanta correria e inundações, o Sr. Cardoso (Tio João para os sobrinhos). Engenhocas como era, electrificou a caldeira.

Assim sempre que a água enchia o depósito, a bóia de nível, ligada a uma campainha, quando chegava ao cimo fazia contacto e desatava a tocar triiimmm trrimmm trrimmm, tal qual um alarme.

Acabaram as inundações. Chegou o progresso, mas a engenhoca funcionou durante muitos anos e bons.

A caldeira eléctrica teve a sua vida, mas como o tempo segue e o progresso chega, acabou esquecida e desativada quando se instalou um motor e um esquentador.

Do sr. Cardoso, esse também o tempo o levou para perto do Senhor. Não acabou esquecido, antes pelo contrário. E muitas engenhocas ainda andam por aí a funcionar. Umas em casas outras poços, outras em canos, outras em barcos e em bancos. Mas principalmente, muitas nos nossos corações.

sexta-feira, janeiro 18, 2019

Eça é Eça, Pessoa é uma data deles.

Não é que seja erudito ou que perceba alguma coisa de literatura. Mas confesso que gramo à brava do Eça. Também não sou um ferranho, nem sei muuuiito sobre ele. Mas era amigo lá de casa, e, apesar de nunca me ter cruzado com ele, derivado da idade... Só por ser amigo lá de casa, basta me para gostar dele.

Depois até escreve bem e com graça. Mesmo com mais de cem anos, até anda actualizado. Prova que este País evolui pouco...

Já do Pessoa, não o gramo. Apesar de também deabunlar pelo Chiado como o Zé Maria (posso tratá-lo assim porque era amigo de casa). O gajo tem dias... Umas vezes é Fernando, outras é Álvaro, outras é Alberto, outras é Ricardo.
Não gramo!! Um gajo é o que é e prontus.

Mas o que gramei no outro dia, foi ter ido à casa do gajo ali em Campo de Ourique e ter provado uma bela vazia barrosã!!
Estava boa sim senhor.!

A vazia do Pessoa essa é que essa.
Talvez não seja o Peixe da Dalmácia, do Jacinto do Eça.
Mas não fica atrás das favas e arroz de Tormes.
Eça é Eça.