Não me lembro que idade tinha quando o vi, nem quando o vi pela primeira vez. Lembro-me que era sempre uma excitação esperar por ele e por todos dele em casa da avó quando chegava o fim do verão, ou melhor, o principio das férias de Natal, não me lembro quando é que era a altura certa para ele chegar, só me lembro que chegava sempre bem disposto com a Tia Mariazinha e todos os primos.
Não me lembro quantos eram ou quantos não eram, lembro que eram muitos e a casa da Avó, pouco cheio ganhava uma vida viva.
Lembro que era tanta gente que aparecia que dormiamos na mesma cama virados com os pés para a cabeça, para ninguém ficar no chão destapado.
Lembro-me dele, mais velho, o Tio do Algarve, parecido com o Tio de Cascais, muito parecido mesmo. Cara redonda, ainda com cabelo e uma barba que às vezes aparecia feita em bigode ou às vezes sem ele. Era uma surpresa tentar adivinhar como o Tio Pedro aparecia.
Falava pouco, inventava muito, construia ainda mais e engenhocava tudo e mais alguma coisa. Entrar no carro dele, uma carrinha, acho que era Ford, verde grande enorme onde cabiam os 7 com as malas e os brinquedos, era uma aventura.
Depois começou a aparecer com a carrinha um carrinho atrás, um porta malas, feito por ele claro!!.
Esperar pelos tios do Algarve, na mata de brito a olhar cá para baixo a ver a estrada ao fim do dia, na esperança de os ver chegar eram programas dos mais importantes que se podiam fazer!!
Lembro de Cascais no Natal, nunca no Verão, porque ser do Algarve não trazia vantagem nenhuma de o ver por Cascais. Mas os primos às vezes apareciam por lá em largas temporadas. Lembro-me dos presentes de Natal dados por eles, feitos por ele.
Lembro-me do Algarve, da quinta da balaia, da praia de Sta. Eulália, todos juntos a fazer pesca submarina, a andar num barco qualquer arranjado por ele. Das patuscadas no terraço da casa, daquela sala cheia de gente a dormir no chão, da comida farta na mesa, onde nunca faltava nada.
Mais tarde lembro-me de o ver sentado no jardim em Almansil a experimentar a rega gota-a-gota, acabadinha de ser montada por ele. Lembro-me, de o ver sentado numa cadeira de realizador, a carregar no botão a experimentar, a perguntar se viamos alguma fuga, e vi aos poucos o jardim e a familia a crescer à volta da Piscina.
Todos mais velhos, mas todos juntos à volta do Pai deles, que talvez por falta de um , fazia-o também um bocado meu.
Via-o sempre descontraído, descansado, sem se enervar, sem se chatear com nada, parecia que a vida para ele tinha sempre qualquer coisa de bom. Não o vi zangado nunca,... também o via pouco....
Acho que a vez que o vi a falar mais tempo, foi em Cascais, quando comemoraram 50 anos de casados. Contou a vida toda, como a viveu como a soube viver e como conseguiu sobreviver.
A ultima vez que o vi, foi como a primeira vez...não me lembro.
Mas lembro-me dele e lembro-me que foi um grande Avô, Marido, Pai, Tio, Irmão e mais outras coisas que não me lembro mas ele sabe.
BEM HAJA P.N A.M