Eram mais ou menos 10 e pouco da manhã. Estava num curso de vendas de produtos ultragongelados quando o telefone da sala de reuniões tocou.
Chamaram o meu nome, atendi, era a minha Mãe a dar a noticia. Aquela noticia que já tinha recebido uns meses antes sobre o meu padrasto que foi meu Pai. Só que desta vez a noticia era sobre o senhor meu Pai mesmo.
Já estava à espera a qualquer momento da noticia, achava-me preparado, sabia o que esperava, porque já tinha passado pelo mesmo. Pelo menos achava eu.
Por isso não estava preocupado assim por aí além, estava conformado, é o ciclo natural, tudo se iria repetir.
Mas não, desta vez a noticia caiu com força, um nó na garganta apertou-me a voz, fiz força para conter as lágrimas e manter-me em pé. Mas não fui capaz. Mal desliguei o telefone, o Dr. Palestrante para mostrar autoridade falou:
- Desta vez passa, mas não posso deixar interromper mais vezes a palestra com telefonemas pessoais.
De pronto respondi-lhe. Não se preocupe, não me vai interromper mais, foi só o meu Pai que morreu. E Saí.
Até hoje aquele só o meu pai, transformou-se em muita coisa. Não tinha sido só o meu Pai. Tinha sido para muita gente, bem mais aquela que imaginava e imagino, um amigo que tinha morrido.
Passados 16 anos, todos os dias ele aparece-me a dar-me conselhos ou palmadinhas nas costas como costumava fazer.
Não tinha sido um bom pai, aliás não tinha sido nem foi um Pai como deve ser. Mas foi o meu, durante os 6 anos que o tive comigo. Graças a Deus, como Pai que me criou tive mais que um, e todos os dias lembro-me deles também.
Não foi um pai exemplar para um filho, mas pelo que tenho vindo a saber, foi uma pessoa exemplar para muita gente. Fez muita asneira, não foi correcto com muitas pessoas... Mas a verdade é que para muitos foi um amigo, um companheiro, um pilar e um exemplo.
Talvez tenha sido um grande homem, para muita gente. Para mim foi e ainda é. E é dificil tentar ignorar que tenha sido um bom homem, porque todos os dias alguém , que muitas vezes não conheço, vem ter comigo e diz..."era muito amigo do teu Pai!".
Ao principio estranhei e desconfiei, não acreditava que fossem todos amigos dele, mas a verdade é que, 16 anos depois, mesmo nos confins de um canto qualquer do mundo a frase aparece-me por algum ilustre desconhecido. Hoje em dia acredito que realmente tinha muitos amigos. Não Grandes Amigos, que esses felizmente sei quem são e foram. Mas que os tinha tinha.
Na altura que o conheci, já eu tinha 18 anos, comecei a tratá-lo por Velho, não por sê-lo ou parecê-lo, mas porque os amigos assim o tratavam também.
Era apanágio todos os finais de noite, irmos ter com o Velho, ali na rua do Olival, onde estava sempre encostado ao balcão com dois maços de marlboro abertos e um copo de whisky on the rocks cheio. Sempre com um sorriso na boca e os braços abertos para nos receber num grande abraço.
É assim que me quero lembrar dele, é assim que não me quero esquecer dele.
Para muitos foi o Manecas.
Para mim foi o meu Pai, o Velho. Não foi um pai, mas o que foi gostei.
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quinta-feira, novembro 11, 2010
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